Por Nanna Pretto
Cada vez mais cedo, nossas crianças têm acesso ao mundo digital — seja por meio de um vídeo nos nossos celulares para entretê-los (quem nunca?), de um jogo no tablet da escola ou de uma conversa por chamada de vídeo com os avós. É natural que o uso da tecnologia esteja presente na infância, mas, como educadores e responsáveis, precisamos ir além do básico. Ensinar a clicar, deslizar ou “dar play” é apenas o começo. O verdadeiro desafio está em educar para o pensamento crítico e para a leitura consciente do conteúdo digital.
Esse é o foco do que chamamos de letramento digital. Em outras palavras, significa preparar nossas crianças para compreenderem não só como usar a internet, mas como interpretar e avaliar o que veem, escutam e compartilham.
E isso não é algo que começa na adolescência, e sim na infância, em casa, nas pequenas conversas. Um bom ponto de partida é incluir as crianças nas reflexões que nós mesmos fazemos, como adultos. Por exemplo: “Quem escreveu isso?”, “Esse site é confiável?”, “Será que essa notícia é verdadeira?”, “De onde veio essa informação?” — são perguntas simples que, com o tempo, ajudam a formar cidadãos mais atentos e conscientes.
Vamos a um exemplo prático:
Imagine que seu filho encontre um vídeo no YouTube ou Tiktok com dicas sobre alimentação. Ao invés de apenas assistir passivamente, você pode guiá-lo com perguntas como: “Quem é essa pessoa?”, “Ela tem formação em nutrição?”, “Vamos ver se outro site confiável diz a mesma coisa?”. Da mesma forma que, quando eles chegam com aqueles conteúdos absurdos que sempre viralizam, podemos fazê-los refletir: “você realmente acredita que isso seja verdade?”, “vamos pesquisar juntos sobre esse tema?”. Esse tipo de interação transforma o tempo de tela em tempo de aprendizado ativo.
Existem muitas ferramentas que podem apoiar esse processo:
● EducaMidia (Instituto Palavra Aberta): programa brasileiro que oferece conteúdos e atividades para desenvolver o pensamento crítico e a educação midiática com crianças e jovens.
● Kids On-line Brasil / Cetic.br: plataforma que disponibiliza pesquisas sobre o uso da internet entre crianças e adolescentes no país, com dados e recomendações atualizadas para famílias e escolas.
● SaferNet Brasil: organização que promove os direitos humanos on-line, com foco em segurança digital, combate às fake news e uso consciente das redes.
● Google Interland (Be Internet Awesome): jogo on-line gratuito e interativo que ensina, de forma divertida, conceitos como segurança de dados, respeito digital e verificação de informações.
● Internet Matters: plataforma internacional que oferece guias por faixa etária para ajudar os pais a conversarem sobre uso saudável da tecnologia.
Educar para o digital é também formar para a vida.
Ao ensinar as crianças a questionarem, a pesquisarem e a refletirem sobre o que consomem, não só preparamos futuros adultos mais informados, como também reforçamos valores fundamentais: ética, responsabilidade e empatia.
Novidade no mundo digital
Programas de letramento digital estão cada vez mais interativos. Jogos como o Interland, do Google, ensinam as crianças a reconhecer informações falsas e proteger seus dados, enquanto se divertem. Outros projetos no Brasil, como o
EducaMidia, já trazem atividades gamificadas para a sala de aula e para dentro de casa.
Essa coluna nasce com o objetivo de compartilhar reflexões, experiências e boas práticas sobre esse novo desafio da educação digital. A cada mês, vamos explorar um tema diferente, aprender juntos e fortalecer essa parceria entre escola e família. Porque, no fim das contas, o que está por trás da tela importa — e muito.